APRESENTAÇÃO

Qual é a situação atual dos estudos filosóficos no Brasil e na América Latina? Por que nos departamentos de filosofia não são ensinados os filósofos brasileiros e latino-americanos? Não sendo eles considerados genuinos filósofos, qual é a noção de filosofia que se utiliza para operar tal exclusão? Quais são os pensadores que Brasil já teve? Fomentam os departamentos de filosofia o desenvolvimento de filósofos? A 39a Semana de Filosofia da UnB se propõe refletir sobre estas questões, convidando 6 estudiosos do pensamento nacional e latino-americano, 3 deles coordenadores dos mais importantes grupos de estudo de Filosofia no Brasil.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Conferência do professor CARLOS PÉREZ ZAVALA (Universidad Nacional de Rio Cuarto - Argentina): “Arturo A. Roig y la decolonialidad”. Dia 8 de junho, 9h.




Por Orlene Barros
   
 Ao longo da conferência, Pérez Zavala buscou delinear o pensamento de Arturo Andrés Roig (Argentina) em torno do teor crítico e rigor acadêmico desse pensamento. Assevera ser Roig um representante genuíno do pensamento latino-americano, pois, de certa forma, resume e perpassa os pensamentos de José Gaos (Espanha-México); de Augusto Salazar Bondy (Perú); de Enrique Dussel (Argentina-México), colega de Roig; de Leopoldo Zea (México); e de Horacio Cerutti Guldberg (Argentino), discípulo de Roig.
  
O pensamento de Roig trata de revisar a ontologia latino-americana e, no enviesamento dessa ontologia por discursos coloniais universalistas, de romper e refundar as questões da universalidade e da colonialidade, a partir de uma desestabilização da cosmovisão eurocêntrica. Para tanto, recorre a análise dos mitos europeu e americano sobre a origem do homem, recorre também a análise das categorias “Oriente” e “Ocidente”, demarcando diferenças e inversões, atravessando a filosofia da história, acenando a constituição ideológica dos empreendimentos humanos, e por decorrência da filosofia, acabando por culminar numa ontologia latino-americana tão somente avistada, e numa ampliação metodológica que permite o pensamento latino-americano situar-se e descobrir-se.

O mito europeu e o mito americano conformam diferentes cosmovisões e metáforas acerca da verdade do ser. Uma metáfora do mito europeu é o pensamento hegeliano. Na Fenomenologia do Espírito, a dimensão ôntico-ontológico se dá na dialética entre escravo e senhor, se dá em oposições entre corpo e alma, vontade e espírito, sediando na alma o campo da verdade do ser, da operação do espírito; o que acaba por legitimar diversas perspectivas colonialistas em suas verdades espirituais e pretensões dominadoras.

Em contraposição, o mito americano se alimenta de metáforas questionadoras da historicidade européia, forçando uma abertura para outras experiências originárias, para o campo da verdade do ser em torno do fazer-se humano, da vontade de gestar-se. Para superar a tradição dualista alma-corpo, que caracteriza a metafísica ocidental, Roig resgata a fábula heideggeriana da Cura, em Ser e tempo, sendo a Cura um esforço angustiado do homem para sair da dualidade originária. Além disso, Roig resgata a narração mítica da origem do humano no Popol Vuh, livro sagrado do povo Quiché. Ambos os resgates apontam para a prioris diferentes ao a priori epistemológico da tradição européia: pré-ontológico heideggeriano aponta para um a priori hermenêutico-existencial; narração mítica da origem humana do Popol Vuh aponta para um a priori antropológico.

Inclusive, ressalta Pérez Zavala, o prioritário para Roig é o homem, constituindo o a priori antropológico uma categoria fundamental no pensamento de Roig. O que marca a distância entre Roig e Heidegger, pois Heidegger se debruça no ontológico, não no antropológico. Roig então se insurge contra o pensamento heideggeriano, por ficar o humano pré-estabelecido analiticamente num corpo modelado de barro e vivificado por um sopro divino; para Roig, resquícios do reino do espírito. À diferença do modo analítico heideggeriano de acercar-se do humano, o modo de Popol Vul é de natureza sintética. Busca-se uma matéria com o princípio de totalidade do ser humano, não uma matéria passiva e alheia ao humano. Daí os deuses terem feito o humano de “pasta de milho” (echá), depois de terem fracassado com o barro. A matéria não necessita de sopro vivificador prévio, ela é dotada de uma potência de vida, com impulso próprio do milho, substância que se identifica também com o alimento que o homem prepara para seu sustento. O humano surge aqui como criando-se a si mesmo, radicado não na espera da morte heideggeriana, mas no trabalho, de onde surge o alimento e a plenitude humanas. Assim, o ser do humano fica referido à criação da cultura mediante o trabalho.

Outra distância aqui é marcada, agora entre Roig e Hegel, com linhas de inversão da filosofia hegeliana da história. Enquanto para Hegel a história está feita e recorre ao passado, daí a metáfora que a filosofia levanta vôo ao entardecer, para Roig estamos no começo da história, não no seu fim, a filosofia levanta vôo ao amanhecer, com a imagem de aves americanas cantoras, de uma ave cantora auroral. No empreendimento hegeliano, não há espaço para a utopia.

Junto com a inversão da filosofia, se dá tanto uma exigência de abertura rumo ao utópico, como uma crítica da razão política. Pérez Zavala assinala com Roig e León Pinelo o fenômeno da inversão, como sendo um modo de reconstruir o pensamento latino-americano, permitindo elaborar outros discursos, com o poder de uma dialética criadora. Roig vê na obra de León Pinelo, El paraíso en el Nuevo Mundo, uma linha de inversão da cosmovisão eurocêntrica, a partir de uma categoria nova, a de peregrino. O conceito de história peregrina acaba por ser um belo esforço de inversão dos códigos vigentes. A inversão acompanha o pensamento crítico. Para Roig, restabelecer as inversões é um modo de reconstruir o pensamento de nossa América.

Léon não põe em dúvida que a história marcha do Oriente em direção ao Ocidente. Não obstante, relativiza os termos Oriente e Ocidente, na multiplicidade de suas vozes, sendo essas vozes verificadas em qualquer lugar do mundo. Inclusive, para León, Oriente e Ocidente ficam referidos às partes que me nasce e que me põe o sol, sem cair no subjetivismo, filiando-se a momentos peregrinos de nascimento na história. De acordo com Cólon e León, América produz o Nascimento, América é o Oriente; a origem da humanidade remonta às bacias hidrográficas amazônicas... e a história mundial se deslocou da América rumo ao Ocidente através do Oceano Pacífico. Pérez Zavala se pergunta: Pura imaginação? Responde que tampouco é assegurada a origem da humanidade entre o Tigris e o Eufrates. Com isso, Roig e Léon dissolvem as categorias Oriente e Ocidente como pontos fixos, relativizando o mito europeu, incorporando e valorizando o continente americano na história mundial.

Pérez Zavala continua explorando agora as categorias interculturalidade e heterogeneidade, para situar ainda mais a filosofia da liberação (ou libertação) de Roig. Para isso, traz o debate Roig/Raúl Fornet-Betancourt (cubano, residente na Alemanha). Fornet critica a mentalidade colonial de Roig, desde a perspectiva de uma teologia da liberação, algo anterior a uma filosofia da liberação. A interculturalidade, para Fornet, não indica nem uma posição teórica, nem um diálogo entre culturas. Reconhece Fornet o aporte da filosofia latino-americana, mas critica sua insuficiência, na qual as culturas aparecem reduzidas e selecionadas, pelo uso colonizado da inteligência, pela visão tributária da modernidade européia, pela opção da escritura em detrimento da tradição oral, pela redução da realidade cultural latino-americana ao mundo da cultura mestiça (mescla entre espanhol e americano).

(Pérez Zavala lembra que a interculturalidade nasce muito longe da Academia, em movimentos tribais e sociais que somente depois reverberam na Academia. Continua nos lembrando que o discurso intercultural é relativamente novo, mas não a exigência de respeitar a diferença, exigência registrada já em Francisco Bilbao, Eugenio Maria de Hostos, Pedro Henríquez Ureña, inclusive em José Ingenieros numa linha positivista, para quem o Brasil nunca seria uma grande potência devido à presença massiva de negros; sendo que Ingenieros acabou se retificando no final da vida, afirmando que o Brasil deve muito de sua potência a mistura de raças. Pérez Zavala aproveita e estende o argumento para a Europa: Por que a Europa dura tanto? Pérez responde: Europa é o produto de maior mestiçagem da história da humanidade.)
Ainda sobre a interculturalidade, Fornet considera que a mobilização dos indígenas e dos afroamericanos em torno da recordação dos 500 anos das Américas, em torno do evento de 1992, fundou não uma teoria, mas uma prática social, e pergunta se a filosofia latino-americana soube ler 1992. Segundo Pérez Zavala, a resposta mais importante de Roig sustenta uma posição crítica: nem encontro de dois mundos, nem encontro entre duas culturas. 1992 convoca a falar de conquista como um ato de imposição! Em 1492, América não foi descoberta, senão avistada! Roig assevera: Estamos descobrindo América.

Fornet dirige outra crítica a Roig: Roig versa sobre uma história compartilhada com ferramentas culturais comuns a conquistadores e conquistados, tomando como eixo do pensamento latino-americano identidades mestiças (mescla entre espanhol e americano) e crioulas (descendentes de espanhol), sem revisar criticamente a gênese da própria identidade, sem reconhecer como filosofia outras matrizes étnicas de pensamento, como as matrizes indígenas.

Pérez Zavala diz ser a filosofia intercultural de Roig uma espécie de etnofilosofia, na qual haveria relações entre culturas e etnias. Ademais, afirma que Roig reconhece a diversidade cultural da América Latina (aymara, mapudungu, asteca, inglês caribenho) em textos como Globalización y Filosofia latinoamericana e Filosofia latinoamericana e Interculturalidade. Assume Roig a interculturalidade apenas se acompanhada de críticas da cultura e da filosofia, num imperativo de decodificação ideológica do diálogo intercultural.

Não obstante, num sentido autocrítico, Pérez Zavala reconhece que a filosofia da liberação precisa superar certas limitações, diante dos privilégios dados ao “rosto ocidental”, a “cara latina” do continente, esquecendo outros rostos e vozes, como os das tradições indígenas ou afroamericanas. Essas limitações se constituem desafios de transformação cultural do pensamento latino-americano. Junto ao avistamento da América e ao imperativo de descobrir-se está o imperativo de transformar-se. Eis a advertência de Perez Zavala: Situa a filosofia latino-americana entre um momento crítico e desconstrutivo e outro momento de renascimento e construtivo, a fim de resguardar a polifonia da América Latina. A questão da universalidade fica redimensionada para além dos universais dominantes e colonialistas. Pérez Zavala nos alerta: Precisamos de universais que nos dizem respeito, distintos de dominação. Afinal, como diz Aristóteles e Santo Tomás, universal se diz de muitas maneiras, e como defende Pérez Zavala, de maneiras livres, na defesa de universais próprios, de culturas e humanismos singulares, mesmo incorrendo em universais insuficientes, insuficiência ligada ao próprio projeto de ser humano.

A filosofia latino-americana nos termos de uma filosofia da liberação é confrontada ainda com o discurso da pós-modernidade, com vistas a atentar-se para formas disfarçadas de dominações, já que, conforme Roig, podemos recair em formas de sujeito do idealismo, tanto de sujeito burguês disfarçado de espírito, como de não-sujeito pós-moderno irremediavelmente ideológico. A pós-modernidade é um dos desdobramentos da profunda perda da fé na razão como o princípio ordenador das coisas humanas. Acompanha esse universo pós-moderno a debilitação do pensamento, a neutralidade política, o pragmatismo fundacionista e negador da utopia (da força projetiva da utopia). O universo pós-moderno acaba se convertendo em universalismos, quando se coloca imune a ideologias, a utopia, etc.

Cravando distância da perigosa armadilha do pós-moderno, Roig afirma que a filosofia latino-americana resulta mais numa narração, num relato, com componentes especulativo e emancipatório, convidando consciências a desvendarem ideologias, distanciando-se de fanatismos e aproximando-se de parcialidades, preservando a força projetiva da utopia. No exercício da suspeita a práxis tem a palavra, é a práxis que nos depara com conflito, uma categoria histórica que cerca homens históricos situados; e o teorizar acompanha a historicidade do que se vive. Assim, a própria narrativa do pensar latino-americano vai se constituindo historicamente, num saber histórico, em filosofias da história. Cabe a filosofia assumir a problemática do relato e revisar criticamente esse saber histórico, a fim de comprometer-se com a construção de uma filosofia latino-americana.

Pérez Zavala nos lembra que, diferentemente da pós-modernidade e de seus pragmatismos fundacionistas, a filosofia latino-americana combate os fundamentalismos e as totalidades absolutas, baseando-se em razões, na racionalidade discursiva. O que não implica que a filosofia latino-americana negue todo tipo de generalização, como faz a pós-modernidade quando renuncia à razão, entregando-se aos perigos do discurso brando do mundo pós Guerra Fria: desarme das consciências, abrandamento ético, abandono da crítica, aceitação do vigente, conciliação e resignação, renúncia ao compromisso, desprendimento institucional, atomismo social.

Os pós-modernos destroem a razão por suas pretensões funestas de dominação. Todavia, para Roig, ao se refugiar no particular, no fragmentário, nas redes flexíveis e incomensuráveis de jogos de linguagem, no distanciamento de conflitos sociais, os pós-modernos acabam por colaborar com o projeto neoliberal e seus esquemas de fragmentação das estruturas sociais, sem que a denúncia do terrorismo da razão impeça aceitar a imposição daqueles universais atinentes ao mercado financeiro. A misologia nasce do descortinamento da verdade ideológica dos universais, agravando-se no caso dos pós-modernos, pois o rechaço à razão e seus universais despreza previamente uma teoria crítica. De outro modo, o desprendimento da razão e da possibilidade do sentido, em favor da prática e do puro significado impossibilita a própria crítica, tornando invisível o conflito social e seu poder de operar desdobramentos, incluindo a insurgência.

Já a insurgência passa pela consciência, pela prévia tomada de consciência das condições de nossa historicidade, para a intervenção na realidade. Pérez Zavala passa então a defender a importância de incorporar a temática da linguagem nas filosofias, pois ela permite questionar as condições de aparecimento dos fatos sociais, do que nos acontece. Com o giro lingüístico husserliano, consciência é consciência (de) algo, o que aparece enquanto coisa é linguagem. Discurso não é linguagem. Discursos operam sem consciências. A oportunidade da língua é de justamente encaminhar consciências críticas, para além da racionalidade moderna capitalista.

Pérez Zavala esclarece então o projeto de ampliação metodológica de Roig. O giro profundo para abrir as ciências humanas passa por reconhecer a ideologia tanto no discurso cotidiano, como no discurso filosófico, no caráter oculto e, por vezes, encobridor da ideologia; por superar os limites nacionais do fazer filosófico-historiográfico das ideias, em direção a panoramas de tipo regional continental; por mudar a noção de sujeito histórico do pensamento filosófico, até então reduzido ao estudo de um determinado grupo social, os intelectuais; por enriquecer a análise das ideias mediante uma compreensão das condições dentro das quais se dão; e, como conseqüência de todo anterior, por uma ampliação dos recursos documentais.

Final, mas não banal, Pérez Zavala nos alerta para as conseqüências de uma “episteme pós-moderna” ou “episteme pós-ilustrada”: o rechaço à continuidade e a predileção pela descontinuidade e fragmentação constituem opções que deixam de lado fatos, textos e autores. Faz um convite para pensar a história por entre epistemes, nos espaços vazios que ligam as epistemes, numa espécie de megarrelato que incorporam pensamento crítico e pequenas histórias. É desse modo que Pérez Zavala acompanha Roig na tarefa latino-americana de transcender a historiografia tradicional a partir de uma filosofia crítica.

Intervenções

Na abertura da Conferência, e depois na abertura às falas do público, Julio Cabrera levantou o caráter desafiador dessa Conferência para esse evento e para outros futuros, dentro da proposta do grupo Fibral de estender para América Latina a discussão da ampliação e do vigoramento do espectro filosófico na Academia e fora dela. Brasileiros e hispano-americanos não compartem referências histórico-culturais, o que coloca questões metafilosóficas e práticas imediatas: em torno de investigações de discursos racionais dominadores e dos mecanismos políticos de invisibilização dessas referências; em torno do esforço de interação, da apropriação mútua das referências latino-americanas e da construção de referenciais próprios e singulares. O desafio de apropriação permanece, inclusive na escrita desse texto, quando, por vezes, a escrita foi interrompida para acercar-se das referências suscitadas na Conferência de Pérez Zavala.

Já no início das falas do público, Wanderson Flor coloca a espinhosa relação entre desconstrução da colonialidade (decolonialidade, descolonização) e racionalidade moderna, pois, em última instância, Roig se vale da mesma razão moderna no seu projeto de decolonialidade, numa tentativa, segundo Wanderson, de salvar os universais a qualquer custo. Traz à tona o pensamento de Aníbal Quijano (filósofo peruano), quem critica a matriz racional da colonialidade. Pérez Zavala responde afirmando que Roig não inaugura os processos de dependência da metrópole, antes ao contrário, trabalhou na direção de superação da dependência colonial. Roig não nega nem a universalidade, nem a racionalidade. Trata-se de ver qual tipo de universal, se é opressivo ou não, liberando-se de universais opressivos.

Outra questão de ordem do Wanderson Flor diz respeito ao elogio a mestiçagem, ao que aproximaria os latino-americanos. Assevera que, enquanto outros países latino-americanos contaram com a presença de elites crioulas, não tivemos crioulos no Brasil, sendo aqui a mestiçagem atravessada pelo ideal de branqueamento, negador das matrizes indígena e negra da cultura. Acaba que no Brasil a mestiçagem foi elogiada em outro sentido, num sentido sutil e perigoso. Como fica então a força da mestiçagem para organizar a perspectiva brasileira e responder ao desafio da emancipação? Pérez Zavala responde então que o branqueamento no Brasil coloca a presença do conflito, importante vetor para a crítica.

Maximiano Basso declara ser encantadora a filosofia latino-americana, principalmente a de língua espanhola. A partir de Fornet-Betancourt, para quem existem muitas formas de razão e grandes culturas com seus com grandes mitos, dentre as quais a filosofia pré-americana e a filosofia pré-socrática, dirige uma crítica a Roig e pergunta se Roig não termina por aderir ao padrão greco-europeu da razão. Pérez Zavala responde que a questão das formas de razão e de cultura não está bem definida em Roig, como está em Fornet-Betancourt. Aponta, porém, a separação entre razão e opressão em Roig.

Sobre a questão da filosofia nas universidades, Basso pergunta o que podemos fazer para enriquecer a filosofia e conseguir transformar e transpor as universidades. Pérez Zavala responde que nos moldes da filosofia da liberação ou da teologia da liberação, precisamos da liberação das universidades, da abertura da noção de filosofia, da ampliação de campos, para além dos campos do currículo e das disciplinas, alcançando o que se passa fora das universidades, no vínculo social da filosofia.

Cleide Bernardes pergunta se a reclamação de direitos pelos dominados não incorreria na mesma linguagem de universais dominadores. Pérez Zavala responde que é preciso evitar cair num conceito único de universal, evitando os perigos do fechamento dos universalismos e da abertura aos relativismos. Universais não são iguais. Há razão nos universais, bem como clareza de ideias, definição de termos, força argumentativa. Afirma ainda que é imprescindível seguir esclarecendo os sentidos de universal.

Agnaldo Portugal pergunta se não é legítimo e mais interessante pensar nas contribuições dos brasileiros para a filosofia em geral (filosofia no Brasil), ao invés do modo brasileiro de fazer filosofia (filosofia do Brasil). Pérez Zavala responde ser mais profícuo reunir filósofos latino-americanos em torno de linhas comuns, em torno, por exemplo, das histórias dos colonizados, porque, afinal, fomos todos colônias, e ainda seguimos sendo. Ao invés de filosofias nacionais, propõe pensar em filosofias regionais, no que experiências de colonização juntam, inevitavelmente, os latino-americanos.

Portugal também pergunta se não fica pobre e restrito o alcance do saber filosófico acerca do Brasil e da América Latina, sem apropriar-se do saber das ciências sociais (antropologia, história, sociologia, ciência política). Pérez Zavala responde destacando as experiências proveitosas da reunião das ciências sociais e humanas em torno das várias edições do congresso Corredor de Ideias, reunindo, a propósito, pensadores latino-americanos no Brasil em setembro desse ano, na Unisinos. Por último, defendeu para a filosofia o papel de coordenar o movimento de pensamento, de considerar a constituição das ideias em sentido mais amplo, de reunir os vínculos sociais da filosofia. Arremata defendendo ser a história das ideias indispensável para a filosofia.

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